Vetorização e Encarte
DEFINIÇÃO:
Vetorização é o nome que damos ao resultado canoro conseguido através do estado “psicológico condicionado” resultante da atuação de elementos sonoros, instrução do dialeto da espécie ou situações sonoras exteriores, impressas pelos órgãos dos sentidos, em momentos “geneticamente pré-estabelecidos” para memorização do dialeto da espécie. Ex: O filhote foi vetorizado com o PRAIA CLÁSSICO. A afirmativa diz respeito a que tal filhote, embora estando na fase do CHURRIAR na época apropriada irá assobiar tal dialeto, pois o mesmo encontra-se Vetorizado. O filhote passa a ser portador desta informação tornando-se um vetor deste dialeto que se encontra impresso.
CARACTERES DESEJÁVEIS DO FILHOTE:
Deve ser comprovadamente filho de Curió de excelente TEMPERAMENTO (fogoso), possuidor de BOA VOZ e COM CARGA GENÉTICA DE REPETIÇÃO e já ter transmitido tais caracteres a filhotes de ninhadas anteriores.
Deve ser comprovadamente filho de FÊMEA de excelente TEMPERAMENTO (fogosa), filha de curió possuidor de BOA VOZ e GENÉTICA DE REPETIÇÃO e já ter transmitido tais caracteres a filhotes de ninhadas anteriores.
QUANDO INICIAR O PROCESSO:
Após o nascimento do filhote em questão, mais precisamente no PRIMEIRO dia de nascido, ou seja, é neste momento que devemos iniciar o processo de VETORIZAÇÃO do dialeto mediante a implantação do método de CONFINAMENTO ÁUDIO E VISUAL, ainda em companhia da mãe.
CONFINAMENTO AUDITIVO E VISUAL:
Conduzimos a gaiola da fêmea para uma Cabine de Acústica ou RECINTO aonde as influências externas são totalmente eliminadas (ausência total de qualquer tipo de manifestação sonora) exceto a exposição sonora do DIALETO que se pretende vetorizar denominada de INSTRUÇÃO, executada através de equipamento CD-Player ou Cartão Sd, Programável, ou Pássaro Eletrônico com excelente qualidade sonora, com exibições controladas por TIMER.
- Das 06:00 (Seis) horas da manhã às 18:30 (Dezoito e trinta) horas da tarde
- 10 (dez) Minutos Tocando o Áudio
- 40 (Quarenta) Minutos sem Áudio (Rádio Fm)
Os espaços compreendidos entre as exibições serão preenchidos com a utilização de um rádio sintonizado em emissora FM com volume moderado tendo como finalidade provocar o estímulo canoro do filhote e ao mesmo tempo criar uma dinâmica sonora no ambiente intercalada por falas do locutor quebrando a monotonia do confinamento, evitando que o filhote se interesse por eventuais influências sonoras que por ventura penetrem no ambiente. O volume do rádio não deve exceder a certos limites, pois há uma tendência dos filhotes tentarem suplantar o volume do rádio, transformando-se no decorrer do tempo em verdadeiros GRITADORES o que prejudicaria a formação do seu timbre, estragando para sempre o seu canto por adquirirem tal hábito. Caso seja usado Cabines de Acústicas, os espaços compreendidos entre as exibições poderão ser preenchidos por gravação sonora do barulho de água corrente como fonte estimulativa ou rádio fm.
Ao completarem 30 (trinta) dias de nascidos os filhotes são separados do convívio da mãe que retornará ao criadouro para produzir a próxima ninhada ou se durante a cria dos filhotes ocorrer da fêmea solicitar a cópula (pedir gala), os filhotes devem ser temporariamente removidos da gaiola de criação para um recinto sonoramente seguro enquanto a cobertura da fêmea é efetuada longe da presença dos filhotes que em nenhuma hipótese devem ouvir o canto e as serradas do padreador durante a cópula sobre pena de inutilizarmos os filhotes. Logo em seguida retornamos os filhotes ao convívio da mãe que fará a postura e iniciará a incubação dos ovos sem negligenciar a sua tarefa de alimentar os filhotes separados por grade divisória.
APARTAÇÃO:
Aos 35 (trinta e cinco) dias de nascidos os filhotes são apartados da mãe em gaiolas individuais e encapados permanecendo no mesmo regime em que se encontravam anteriormente. Agora, sem a presença da mãe, inicia-se o CHURRIAR OU ENGRISAR.
Procede-se em seguida a SEXAGEM, permanecendo no recinto apenas 01 (um) macho ou em caso de 02 (dois) machos na ninhada, o de melhor temperamento. Em nenhuma hipótese o filhote em questão deve ouvir ou trocar canto com outros filhotes. O ensino é individualizado por questões territorialistas e da busca do aprendizado com a máxima perfeição, sendo ainda que, os filhotes que aprendem a cantar em pequenos grupos adquirem uma série de hábitos indesejáveis, tais como abrir o canto e logo em seguida interrompê-lo para escutar a resposta do companheiro. Estabelecido este vício ficam inutilizados para sempre, o grupo não desenvolve o caractere repetição e passa a emitir apenas fragmentos do dialeto ministrado no afã da disputa que se instala entre eles por QUESTÕES TERRITORIALISTAS.
O filhote que submetemos ao método de CONFINAMENTO AUDITIVO E VISUAL após a apartação já tem memorizado todo o dialeto contido nas instruções, ou seja, O CANTO ESTÁ VETORIZADO e como a encapagem da gaiola lhe tira a visão, tal fato o leva a aguçar a audição (fenômeno este muito conhecido entre os deficientes visuais) buscando dar conta do que acontece no ambiente onde se encontra confinado, emitindo chamados ao menor movimento no recinto. A partir deste ponto passamos a ter o máximo de rendimento do método, mais também o máximo de cuidado com eventuais invasões sonoras indesejáveis no ambiente. Continuamos com as instruções nos horários anteriormente estabelecidos, bem como a utilização do rádio que pode ter o seu volume um pouco aumentado tendo em vista o aguçamento auditivo do filhote e, possibilidades de contaminação sonora vinda do exterior. Tais preocupações são dispensáveis com o uso das cabines acústicas. Com o crescente desenvolvimento do churriar o criador tende a submeter o filhote a um maior número de instruções e exposições mais duradouras. Tal tendência deve ser controlada sob pena de inutilizarmos o filhote, pois o excesso de instruções nesta fase é totalmente desaconselhada, tendo em vista que o filhote já foi vetorizado. Precisa-se apenas nesta fase exercitar-se estimulado pelo som do rádio (na natureza os filhotes nesta fase buscam os cursos dos rios e cachoeiras para estimular-se à prática do churriado) para desenvolver a SIRINGE (órgão responsável pela fonação). Preparando-se para o surgimento dos primeiros assobios, a intensificação de instruções nesta fase provocará a total inibição do chuarriar com o estabelecimento do medo, desinteressando-se pelo aprendizado e em casos mais graves se instala o DPA- Distúrbio da Plumagem do Pássaro com o surgimento da injúria da plumagem (auto depenação). O filhote deve ser mantido rigorosamente dentro do esquema previamente estabelecido.
MANEJO DO FILHOTE:
O ambiente em que mantemos o filhote deve ser relativamente confortável, bem arejado, desprovido de correntes de vento, umidade excessiva tais como banheiros e cozinhas e em nenhuma hipótese deverá ter as paredes revestidas de azulejo, cerâmica ou pastilhas pois tais ambientes não absorvem o som (por serem revestidos com material refletivo e não absorvente) das ondas sonoras provocando eco (reflexão da onda acústica pelas paredes) e reverberação (persistência de um som num recinto limitado, depois de haver cessado a sua emissão pelo pássaro). A conseqüência direta é a má formação do timbre, com a metalização da voz do filhote, dotando-o de um timbre com textura irritante, com a eliminação da maviosidade e maciez. (perde o veludo da voz). Tal preocupação é dispensada com o uso das cabines de vetorização.
O ideal seria um ambiente revestido com cortinas, se possível paredes revestidas de manta de espuma de nylon ou qualquer material absorvente sonoro. Em média aos 03 (três) meses ou próximo desta idade o filhote confinado inicia a emissão dos PRIMEIROS ASSOBIOS (ou o que ele estiver executando como canto). O canto a partir desta data será composto por assobios inicialmente acelerados e meio descoordenados ainda com alguns churriados, o que vai se ajustando com o passar dos dias.
O filhote, em nenhuma hipótese, deve deixar o recinto de confinamento sobre quaisquer pretextos, e muito menos a capa ser removida; em nenhuma hipótese deve tomar conhecimento do mundo exterior para não dividir a sua atenção com o que acontece lá fora. Nesta fase, qualquer manejo da gaiola pode provocar a estimulação do temperamento levando o filhote a um estado de agitação e nervosismo que prejudicará todo o trabalho em desenvolvimento pois o manejo precoce pode desencadear o processo de repetição do canto antes que ele se firme completamente levando a ave a só cantar fragmentos, não mais se interessando pelo aprendizado, e pior ainda, estabelecer o hábito de repetir um fragmento de canto. O estado de agitação e nervosismo (enfezamento) que acometem filhotes de excelente procedência o leva a externar de forma exagerada um temperamento fortíssimo que conduz o filhote a uma fluência canora super abundante e exaustiva, provocando um cantar sem limites, levando o filhote a um estado de rouquidão irreversível quando não o derruba do poleiro num ataque fulminante que lhes ceifa a vida.
Alguns filhotes negam a entrada de canto, outros os arremates, outros ainda, fazem uma confusão generalizada. Tudo depende especificamente de cada um, de uma maior ou menor capacidade de assimilação, sendo que algumas características estão sempre ligadas a outras, ou seja, uma característica provoca o surgimento de outra, é a causa gerando um efeito. Vejamos, os filhotes que apresentam o canto bastante desordenado geralmente são muito fluentes e emitem com muita rapidez e facilidade tríades (conjunto de três notas) que predominam no canto Praia Grande propiciando a confusão a que me refiro, pois bem, tais filhotes são geralmente os que irão repetir canto pois a fluência associada ao fôlego são condições indispensáveis para tal fim. Os filhotes que emitem demasiadamente certas notas o fazem porque ainda não automatizaram a emissão correta do canto e tendem a executa-lo todo em tríade (conjunto de três notas) não observando os conjuntos de duas notas (dual) que eles executam como tríades acrescentando uma nota a mais. Temos observado que certa deficiência ocorre por excesso de determinada qualidade, os filhotes apresentam tendências das mais variadas, compete ao criador identifica-las e dosa-las buscando a formação correta do dialeto. Aí começa a etapa de lapidação do canto.
OBS: TEXTO COM ALTERAÇÕES
AUTOR : GILSON FERREIRA BARBOSA
VETORIZAÇÃO II
Chamamos de vetorização o primeiro contato do filhote com o canto da espécie. Embora não haja embasamento científico para teoria exagerada de alguns criadores que afirmam que o início do aprendizado se dá com o filhote ainda no ovo, é certo que está ligado aos seus primeiro dias de vida, quando está totalmente receptivo. Também é certo que há uma predisposição genética ao aprendizado do canto, já que criadores que se dedicam à seleção de um plantel voltado para execução perfeita de determinado dialeto obtêm sucesso maior do que os que praticam cruzamentos aleatórios, mantidos procedimentos semelhantes no manejo da vetorização e encarte do canto.
Na natureza, o filho aprende com o pai e irá ensinar seus filhos no futuro. Esse é o meio mais eficiente de vetorização do canto. Na criação em cativeiro a coisa se complica, principalmente pela indisponibilidade de Galadores com canto perfeito.
PÁSSARO MESTRE DE CANTO:
A melhor solução para vetorização (Encarte) do canto em cativeiro é o emprego de mestres de canto. Um pássaro MESTRE é ainda mais difícil de ser obtido que um Galador de canto perfeito. Somente poderá ser mestre o pássaro que, além do canto perfeito, possua características especiais de TEMPERAMENTO. Um mestre nunca pode irritar-se com o canto dos filhotes, mantendo-se impassível na perfeita execução do seu canto, sem variar qualquer nota. Deve ser capaz de cantar com perfeição mesmo com a gaiola encostada a de outro macho. Não pode interromper seu canto para escutar o canto de um possível adversário. Não pode modificar seu canto por influência do pialado das fêmeas. Deve ter um mínimo de três ou quatro anos, tendo saído de todas as mudas de pena sem modificar seu canto. Poucos são os criatórios que possuem curiós mestres de canto clássico. Um bom mestre pode valer elevadas somas.
ISOLAMENTO ACÚSTICO:
Pressuposto básico para a correta vetorização do canto. O filhote não pode ouvir o canto de outros pássaros, aí incluídos galadores com falhas no canto e fêmeas solteiras. Há quem afirme que o canto dos sabiás não influencia a vetorização de cantos de curiós, mas aconselhamos não arriscar. Esse isolamento acústico requer facilidades de estrutura pouco comuns à maioria dos criatórios. São necessários, no mínimo, três ambientes acusticamente isolados. Um para galadores e fêmeas solteiras, um para fêmeas chocando ou alimentando filhotes e outro para treinamento de canto. Melhor seria se os filhotes nascidos fossem transferidos para outro ambiente, ainda juntos com a mãe, mantendo-se na sala de choco apenas as fêmeas chocando, em absoluta tranqüilidade. A presença de mestres de canto ou a sonorização da sala de choco costuma deixar as matrizes nervosas, sempre causando algum prejuízo à incubação. Havendo disponibilidade do quarto ambiente, o melhor momento para a transferência dos filhotes entre o 4 e o 7º dia após o nascimento. Já teremos passado o evento do anilhamento e a fêmea já terá adquirido o ritmo no tratamento dos filhotes. Será então iniciado o processo de vetorização do canto. É importante destacar que não basta que o ambiente destinado à vetorização do canto seja acusticamente isolado, é importante que ofereça boas condições para a propagação do som. Paredes lisas tendem a refletir o som, causando reflexão (ECO) e reverberação (permanência de ondas em um recinto limitado), incutindo distorções na vetorização. Os auto-falantes não devem estar virados diretamente para os pássaros, nem devem ser posicionados na parte superior. O som apresenta tendência a subir. O uso de cortinas ameniza bastante a reverberação.
APARATO ELETRÔNICO EMPREGADO NA VETORIZAÇÃO:
São várias as opções disponíveis no mercado e temos que definir uma série de detalhes de manejo para a correta escolha do equipamento. A grande preocupação se relaciona com a qualidade do áudio. É necessário definir o número de auto-falantes para definir a potência do equipamento que será empregado na amplificação. Também deverá ser levado em consideração o casamento das impedâncias no circuito de áudio. Em outro texto abordamos alguns detalhes dos circuitos de áudio.
Na natureza um pássaro não canta em tempo integral. Essa condição é fundamental no manejo do encarte de cantos. Para reproduzi-la em nossos criatórios é importante a utilização de um temporizador (timer) que regulará automaticamente os períodos em que será veiculado o canto e os intervalos de silencio ou acionamento de outra fonte sonora. O uso de uma fonte sonora alternativa para preenchimento dos intervalos de canto é apoio importante ao isolamento acústico. O som de uma rádio FM é bastante adequado, alternando fala e música, acostuma o pássaro aos sons típicos do convívio humano e evita que ouça cantos indesejados, oriundos do meio externo.
A fonte de áudio deve ser sempre um CD ou CARTÃO SD. As fitas magnéticas, com gravações analógicas, permitem que o leitor do sinal assuma qualquer valor, inclusive estalidos, chiados, variações no andamento etc. Com a gravação digital isso não ocorre. Ou o receptor recebe a informação correta ou simplesmente não a recebe. Não há interpretação duvidosa ou variada na leitura do sinal digital.
MANEJO NA VETORIZAÇÃO:
Os pássaros possuem uma sensibilidade superior a nossa para a percepção dos sons do ambiente. Se estivermos rodando a instrução de canto em um aparelho de som, por melhor qualidade que apresente, e o canto de outro pássaro invadir o isolamento acústico, esse canto roubará a atenção do filhote.
Os primeiros três meses de vida do filhote compreendem o período em que estará mais receptivo à assimilação do dialeto do canto. Após esse período entram em muda (muda de ninho) e ficam até cerca de seis meses meio refratários ao canto. Após os seis meses passam para a fase de maturação sexual, ficam mais territorialistas e se dedicam ao desenvolvimento do canto que possuem vetorizado. Essa fase segue até a próxima muda e é conhecida como fase da lapidação do canto. Passada a primeira muda de pardo, pouco poderá ser feito para corrigir um defeito de canto, embora não seja difícil estragá-lo no convívio com outros pássaros.
Durante a primeira fase não devemos veicular um canto com muitas repetições, que dificultariam o aprendizado pelo filhote.
OBS: Texto com Alterações
FONTE: SITE CANTO E FIBRA